A acadêmica Renata de Oliveira Manfio, do programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Estudos Latino-Americanos (PPGIELA), defendeu, na data de 22 de março de 2021, sua dissertação intitulada "Patrimônio cultural arqueológico: fragmentos de memória em São Pedro do Ivaí-PR".
Confira a íntegra de sua dissertação em: https://dspace.unila.edu.br/handle/123456789/6278
“Allah ﷻ facilita o caminho para o Jardim para
quem seguir um caminho em busca de conhecimento.”
— Muslim, Kitab at-Tahara, 3/99.
1968. Colégio Comercial de São Pedro do Ivaí. Funcionou até 1972. Situado na Rua Abílio Chaves. Oferecia apenas o curso de Técnico em Contabilidade.
A história acusa que a primeira escola de São
Pedro do Ivaí havia sido construída em 1949, porém em razão da ausência de
docentes para lecionar nesta cidade, o prédio da instituição permaneceu fechado
até 1950. Somente em julho de 1950 que chegou à esta localidade a Sra.
Alfredina Fernandes Gouveia, juntamente com o seu cônjuge Sr. Aparecido Mendes
Gouveia.
Professora Alfredina Fernandes Gouveia. In memoriam.
Em razão da existência de aproximadamente 40
alunos em idade de alfabetização naquela época, os Sr. Afonso Junqueira Franco
e o Sr. Miguel Carneiro convidaram a professora Alfredina para ministrar aulas
naquela construção abandonada, tendo a mesma aceitado de imediato a insigne
função à ela outorgada, registrando assim o seu nome na história de nosso povo
como a 1ª professora de São Pedro do Ivaí.
1952. Primeiro desfile de 7 de setembro em São Pedro do Ivaí.
Mais tarde, com a formalização de 30 matrículas
no sistema de ensino municipal, a Prefeitura de Apucarana, que era a
responsável pelos atos jurídicos praticados pela então vila, por influência de
lideranças locais, efetivou a Sra. Alfredina como professora de educação
básica, isso em 1951. O documento de nomeação foi subscrito pelo prefeito Sr.
Carlos Massareto.
Da esquerda para a direita, as professoras Zenaide, Mírian Carneiro e professora Armandina Secco.
A partir de 1952, novos professores seriam
deslocados à este município como as irmãs Sra. Maria José Brandão e Sra.
Teresinha Brandão, entre outras (os).
1971. Professores e alunos do magistério em comemoração ao Dia dos Professores.
O Golpe
Militar de 1964 e a Atuação do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS)
em São Pedro do Ivaí
A São Pedro do Ivaí Histórico, em diligências ao
Arquivo Público do Estado do Paraná, objetivando resgatar a memória dos vergonhosos
tempos sombrios da ditadura militar imposta em 1964, encontrou uma infinidade
de documentos que tratam de assuntos que vão desde procedimentos
administrativos dos órgãos de repressão até perseguições políticas contra cidadãos comuns e notórios
políticos em nossa cidade.
Os documentos são públicos e fazem parte do
acervo do “DOPS - Série Pastas Temáticas (1937-1989)”. Fatos que até então eram
desconhecidos por grande parte dos são-pedrenses, agora estão disponíveis na
São Pedro do Ivaí Histórico.
Até o momento, foram encontrados os seguintes
documentos, devidamente digitalizados e disponíveis no formato PDF:
1- Âmbito e conteúdo
a) No dossiê consta ofício n.º 172/75 datado de 18/11/1975
da Delegacia de Polícia de São Pedro do Ivaí para o delegado da DOPS em
Curitiba contendo relatório a respeito das investigações feitas a respeito de
Miguel Carneiro, prefeito municipal. O relatório foi solicitado pela DOPS com a
finalidade de apurar crimes de má gestão do prefeito e improbidade
administrativa.
b) Em 29/04/1975 foi apreendido armas e munições e o
delegado após ameaça de morte promoveu buscas para prender os suspeitos porém
não conseguiu localizá-los. O fato foi relatado através do relatório da Polícia
Militar endereçado à DOPS no dia 05/05/1975.
c) No dia 18/05/1964 foi expedido correspondência da Câmara
Municipal de São Pedro do Ivaí endereçada a DOPS em Curitiba com a finalidade
de que investigassem o vereador daquela cidade, Diogo Peres Rodrigues, pois há
suspeita de que o mesmo fosse comunista.
d) Consta também “Auto de Declarações” de Leonel Pereira
dos Santos que compareceu a delegacia da cidade no dia 10/04/1964 prestando
informações a respeito de Diogo Peres Rodrigues suspeito de propagar as ideias
comunistas na cidade.
Acesse os documentos clicando na imagem abaixo:
2- Âmbito e conteúdo
a) O dossiê apresenta diversos documentos enviados pela
Caixa Econômica Federal (citadas agências de Ponta Grossa, Curitiba, São Pedro
do Ivaí) para a DOPS. Destacamos entre estes documentos os seguintes assuntos:
empresas que se encontram regularizadas junto ao órgão de segurança do banco;
pedido de atestados de ideologia política dos concursados; avisos de prevenção
e perícias de estelionatários (nomes citados); ocorrências. Consta relatório da
delegacia de furtos e roubos que não faz parte do referido dossiê. Constam
documentos da década de 1940.
Acesse os documentos clicando na imagem abaixo:
3- Âmbito e conteúdo
a) Documento referente as eleições do triênio 1976/1979 da
direção do sindicato, a diretoria eleita foi composta por 12 nomes, todos
homens, o documento faz referência as novas eleições para o triênio seguinte
que iriam acontecer em 1979.
Instalado em 1952, nesta cidade, o cinema
municipal inaugurou uma nova era de fantasias, diversão e cultura ao nobre povo
são-pedrense.
De propriedade do senhor Antônio José Ribeiro,
posteriormente do senhor Mario Gomes, o primeiro cinema situava-se à rua
Vereador Abílio Chaves, em frente à praça da Prefeitura Municipal. Em um
ambiente simples e pequeno, o estabelecimento estruturado em um prédio de
madeira, possuía em seu recinto aproximadamente 70 lugares, apenas. Circunstâncias
estas que não impediram o sucesso deste empreendimento.
Presente na imagem: Mário Gomes, Sara (discursando), Diogo Peres, Mariano. Aos fundos o primeiro prédio do cinema.
Já em 1958, com uma maior demanda, o cinema
instalou-se na Avenida Dr. Cícero de Moraes. Por seis anos o seu proprietário
foi o senhor Waldemar Polizello, após o local seria administrado pelos senhores
Pedro e Lino Polizello. Com um espaço maior, som e imagem de melhor qualidade,
o novo cinema oferecia 130 lugares, compostos por cadeiras de madeira com
assento de palha trançada.
Imagem da fachada do Cine Ivaí
Mais adiante, com a formação de uma sociedade
composta pelos senhores Mário Ricciardi, Pedro Paulo Sobrinho, Mahamoud Zaki,
Waldemar Polizello e José Custódio, o Cine Ivaí aumentou o seu espaço, desta
vez o prédio foi construído em alvenaria e comportava 640 pessoas em um
ambiente totalizado em 510 m². Contando com dois potentes projetores sólidos de
35 milímetros, uma tela de 10 metros de comprimento e 4 de largura, o Cine Ivaí
adquiriu paridade com os demais cinemas do Brasil, em razão de sua moderna
estrutura, na época.
Formatura conjunta do magistério e do curso de técnico em contabilidade, no ano de 1972. A primeira da fila é a Sra. Cleuza Araújo, seguida das Sras. Iraci Maciel, Sandra Gomes e Cristina Gondo.
O público comparecia ao cinema especialmente
para assistir filmes e seriados como “O Gordo e o Magro”, “Os Trapalhões”, “O
Zorro”, "E o Vento Levou", “Paixão de Cristo”, “Stalone Cobra”, “Ao Mestre, com Carinho”, “Quando
Setembro Vier”, “O Dólar Furado”, “Django”, “A Lagoa Azul”, “Amores Clandestinos”,
filmes dos atores Grande Otelo, Ankito, entre outros. Os seriados tinham
continuação todos os domingos. Além disso, o espaço era utilizado para
formaturas e reuniões.
Da esquerda para a direita: Pedro Cordeiro, João Furtado, Vergilio Secco, José Bernardes, Miguel Carneiro (discursando).
O Sr. Valtair Delfino Soares entrega um diploma para a Sra. Regina Celia Santos.
Encenação da peça "O Falsário". Na foto o professor Augusto (em pé), José Alves Ferreira (sentado). Os personagens representavam dois presidiários.
Este é o Sr. Zenildo Megiatto, preclaro pároco
da paróquia São Pedro do Ivaí Apóstolo, no deslinde dos anos 1990 à 2009.
Nesses 19 anos de valorosos labores prestados ao povo sãopedrense e à toda a
humanidade, Zenildo logrou êxito em suas realizações, formando uma comunidade
crítica, capaz de questionar o poderio político e empresarial que dominava a
região.
Na cidade de São Pedro do Ivaí, Zenildo arquitetou
e fez colocar em prática o Projeto de Educação do Assalariado Rural Temporário
(PEART), esta iniciativa nasceu em uma de suas visitas à Destilaria Vale do
Ivaí, poderosa indústria de açúcar e álcool do sul do Brasil, na ocasião de um
trabalho à Comissão Pastoral da Terra (CPT) que identificou cidadãos iletrados
em meio ao longínquo vazio demográfico inserto entre as lavouras de cana de
açúcar desta região, ambiente este
propício para a exploração da mão de obra humana.
Ativo e imbuído no dever moral de levar
conhecimento técnico-jurídico àquela população obreira, Zenildo ministrou
diversas palestras e reuniões com o objetivo de inspirar naqueles cidadãos a
busca incessante da justiça.
Certa feita, ao distribuir informativos que
discorriam sobre legislação trabalhista, muitos, assustadoramente, recusavam o
mesmo... O motivo? Eram analfabetos! Não tinham condições de, naquele momento,
analisar a mensagem que Zenildo desejava repassar a eles. De cada 10 pessoas
somente duas delas aceitavam o informativo.
Diante dessa constatação aterradora Zenildo
procurou fazer levantamentos sobre o índice de alfabetização nos municípios do
Vale do Ivaí no Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social
(IPARDES), órgão oficial do governo do Paraná. O resultado não poderia ser
pior: em São Pedro do Ivaí, 40% dos eleitores que votaram na eleição para
presidente do Brasil em 1989 eram analfabetos; em Bom Sucesso o número chegava
a 50%; em São João do Ivaí a 53% e em Lunardelli a incríveis 66%. Acrescente-se
ainda que a maioria desses trabalhadores não possuía documentos nem carteira de
trabalho assinada. Além disso, trabalhavam aproximadamente 12 horas por dia e
estavam expostos às condições de trabalho sem segurança alguma. Quando tinham
sorte conseguiam ganhar R$ 3,00 (três reais) por um dia inteiro de trabalho
colhendo milho, algodão ou cortando cana de açúcar.
Numa reunião com os integrantes da CPT surgiu a
ideia da implantação de um projeto pioneiro de Educação para atender
especificamente às necessidades deste povo que, além de serem excluídos da
sociedade, nunca tiveram a oportunidade de estudar. Nascia, então, o PEART (Projeto de Educação do
Assalariado Rural Temporário) que, através de inúmeras negociações com o
Governo do estado (na administração de Roberto Requião) e com o secretário de
educação (Elias Abraão), foi firmado um convênio abrangendo também com o PEART
também as regiões Norte e Noroeste do Estado.
O objetivo do PEART não era só alfabetizar. O
objetivo também era resgatar a cidadania, abrir novos horizontes e, como era de
se esperar, despertar o senso crítico para que eles pudessem se autovalorizar e
ser protagonistas de sua própria história. Esse trabalho permaneceu de 1993 até
2004 e teve grande sucesso em toda a região. Passaram por ele mais de 50.000
alunos entre jovens e adultos, sem esquecer também o exame de equivalência com
os certificados devidos para que eles pudessem dar continuidade aos estudos.